Cotidiano IV

Todo dia ele acordava, tomava seu café da manhã, lia rapidamente seu jornal, acendia seu menor cachimbo e baforava. Imaginava como seria seu dia, certamente faria as mesmas coisas que fizera ontem, ontem e ontem, nessa ciranda infinita e repetitiva que era sua vida...

Lembrou-se de uma antiga canção de Chico “todo dia ela faz tudo sempre igual, me acorda à seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de café...”.

Terminou seu fornilho, limpou-o rapidamente, mas cuidadosamente, guardou-o no mesmo lugar de sempre. Era metódico e gostava das coisas sempre nos mesmos lugares. Pegou sua carteira, seu celular, fechou a porta e saiu. 

Desceu as escadas, cruzou por Dona Teresa, mulher bonita e sensual, olhou-a com um olhar sedutor, fato que, infelizmente,  não foi percebido por ela. Ele, porém, sorrindo para a vida, tinha certeza que Dona Teresa havia lhe retribuído o olhar. Como um tabaco novo que iria experimentar, aquilo o animou de tal forma que chegou a concluir que sua vida, sua rotina, estava mudando...

Saiu do trabalho mais cedo. Desceu do carro, viu um caminhão em frente ao seu prédio. 

Dona Tereza estava de mudança. 

Nada mais poderia ser feito! Subiu, preparou o seu maior e melhor fornilho, com seu tabaco mais forte. Reservou duas doses do seu melhor whisky. Dormiu no sofá.

Acordou, tomou seu café da manhã, preparou seu menor fornilho...