quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ryoki Inoue: 'Com vida livre, mataria uns políticos por aí'

Ryoki Inoue, de 66 anos, e seu cachimbo branco, feito sob medida - Foto: Marcelo Caltabiano
 
 
 
Ele entrou para o Guinness Book por ser o escritor mais prolífico; aos 66 anos, não tem papas na língua 
                      
Flávia Marreira
São José dos Campos
 
 
Roupas simples e um andar sustentado por uma bengala, por conta de uma neuropatia diabética -- mas já bem melhor do que na época em que dependia de uma cadeira de rodas.
No meio de uma manhã ensolarada, o escritor mais prolífico do mundo, reconhecido mundialmente por fazer parte do livro dos recordes, o Guiness Book, após ter escrito e publicado mais de 1.000 obras, Ryoki Inoue recebeu O VALE em uma chácara alugada de São José dos Campos, onde mora com a mulher, que é francesa, Nicole Kirsteller.
Para ter tantas ideias, não poderia mesmo ser uma pessoa muito comum. Aos 66 anos e nascido em Campos do Jordão, é, sem dúvida, uma pessoas extremamente diferenciada. O escritor é desprendido de bens materiais, sem papas na língua, agnóstico, meio cigano (como ele mesmo se define) e faz (quase) tudo o que o vem à cabeça.
Hoje, além da esposa, ele vive com a neta Caroline, de 6 anos, e com os quatro cachorros, pelos quais ele é, assumidamente, apaixonado.
 
Profissão. Embora tenha deixado a profissão de médico cirurgião para virar escritor -- que é o que realmente gostava de fazer desde criança --, ele se exalta ao ressaltar que escrever não faz parte de um de seus hobbies. É sua profissão, seu ganha pão.
“Esses (que escrevem porque gostam) são os pseudoescritores. O escritor não profissional, o cara que não é nem jornalista, nem escritor, nem absolutamente nada, e gosta de escrever, e que normalmente só escreve bobagem, esse cara pode se dar o luxo de dizer que escreve por hobby.”
A compensação psicológica da vida nos hospitais, para Ryoki, não era grande e não valia a pena “ficar se matando”. “Ganha-se mal. O escritor no Brasil é ainda menos reconhecido do que um médico. Mas, em compensação, você faz o que você quer. Quando você fica com raiva de alguém, você mata esse alguém, tranquilamente, sem cometer nenhum crime. E com um requinte de crueldade”, disse.
 
Fumo. Já acomodados para uma longa conversa em uma mesa do lado de fora da casa, Ryoki acendeu um cigarro. Mas logo apagou e rapidamente pediu que sua neta buscasse seu cachimbo branco, feito sob medida e com tabaco personalizado. “Você não vai encontrar em lugar nenhum do mundo cheiro igual”, conta. Ele não gosta de aparecer em fotos fumando cigarro. Prefere o cachimbo, o qual tem como hábito desde seus 16 anos.
Sr. Ryoki pediu para evitarmos perguntas sobre seu passado, seus livros de bolso -- informações que, segundo ele, estão “batidas” --, mas não poupou palavras sobre outros assuntos, bem mais polêmicos.
 
Produção atual. Na época em que entrou para o Guiness Book, Inoue chegou a produzir três livros por dia, durante um mês. Hoje, ele diz que escreve um livro por ano e dá cursos de como escrever romances, que podem ser ministrados online ou presencialmente.
Para ele, o mercado livreiro brasileiro não consegue absorver mais de dois romances por ano. Motivo? A internet.
O escritor mais produtivo do mundo hoje tem sua própria editora, a “Ryoki Produções”, na qual, além de seus próprios livros, lança obras de outros autores também. Disse que a atitude foi fundamental para seu trabalho. “As editoras convencionais são um bando de safadas, que não pagam os direitos autorais normalmente”, ressaltou.
 
Polêmica. Seu livro mais recente, “Também Se Lava Com Água Benta”, fala sobre a podridão na Igreja Católica na cidade de São Paulo. “Os padres roubam de tudo quanto é jeito, praticam as maiores barbaridades e se escondem, se ocultam com a batina.”
Ele diz que este é um livro “meio chocante” e que encontrou muita dificuldade na pesquisa. “Tem um bispo que disse assim: ‘o dinheiro não importa de onde vem. Uma vez que ele é dado pra Igreja, ele é abençoado, mesmo vindo de droga’”, fala, seguindo com um longo silêncio.
Quanto à repercussão, ele disse que teve uns “padrecos” que disseram que ele seria descomungado. “Mas não fui. Pena, porque, se eu tivesse sido, o marketing seria melhor, né?”
Ele diz que hoje seus livros ainda têm venda considerável, mas que não pode dizer que é “que nem pão quente”.
Religião. Sr. Ryoki foi criado dentro do catolicismo, mas atualmente não acredita em nada. Se considera agnóstico. “Não sou ateu. Para mim, o ateu é besta.”
Para escrever todos os livros, ele e a esposa fizeram muitas pesquisas e, por isso, contam, tiveram que estudar diversas religiões.
“A gente respeita cada um, porque cada um vai buscar a força onde quer. Nossa força é no mundo interior.”
Então, Ryoki questiona: “Você consegue acreditar que Deus seja boníssimo, onipotente?”. Para ele, a resposta é não, e logo se refere a crianças da Somália, ou do nordeste do Brasil, que já nascem doentes. “Se Deus estivesse presente ali, não deixaria acontecer”, afirmou. “Se Ele é onipotente, sabe daquilo, e Ele é boníssimo, por que deixa acontecer?”
 
Lançamento. A próxima obra de Inoue chama-se “Fraude Verde”, autobiográfica, que conta a experiência de Ryoki e a esposa no Mato Grosso do Sul, numa reflorestadora.
“A quantidade de falcatruas, de crimes cometidos em função do reflorestamento, é uma das maiores barbaridades”, explica o escritor. A nova obra deve ser publicada até o fim deste mês.
Parte de seus títulos ainda podem ser encontrados em livrarias físicas e online de todo o Brasil. “Agora, muitos estão esgotados e eu não pretendo reeditar tão cedo.”
 
Casamento. “Bruxa!”, diz Sr. Ryoki, ao se referir à esposa Nicole, com quem está casado há 34 anos. “Ajudo como eu posso, trabalho com a natureza. Sou bruxa branca, só isso”, explica ela, que também é escritora, capista, aquarelista, desenhista e ilustradora. Inclusive, ela ilustrou cerca de 500 obras de Ryoki.
Nicole é de família de franceses e cresceu nesse ambiente. Uma senhora simpática, com a mesma idade do marido, ela carrega o sotaque do idioma estrangeiro até hoje.
Eles se “conhecem” desde os dois anos de idade, quando eram vizinhos em São Paulo, onde Inoue vivia com a avó. “A vida nos reuniu 30 anos depois”, contou Nicole.
A esposa é claramente uma das grandes forças do Sr. Ryoki. Foi ela quem o incentivou a deixar a medicina para fazer o que realmente gosta.
 
Desprendimento. O casal não adquire imóveis. “O que eu vou fazer? Vou levar para o outro lado?”, questiona Ryoki.
Ele diz também que não precisa deixar nada de herança para os filhos, pois cada um deve seguir seu rumo.
Ele e a esposa preferem alugar uma casa para morar e viver mudando, para onde a vida levar. É quando diz que são “meio ciganos”. Eles já moraram em cidades de quatro estados brasileiros: São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
“Buscamos qualidade de vida. E nossa qualidade de vida não tem nada a ver com matéria”, explicou Nicole.
Inoue conta que essa é a quarta vez que retorna a São José. Há três anos, ele e a esposa alugaram uma casa na rua Major Antonio Domingos, no centro da cidade. Embora tenha gostado de estar perto de tudo, ele se queixou de morar no “ponto dos travecos”. Então, mudou-se para uma chácara em um bairro mais isolado, onde, segundo ele, o único inconveniente são os mosquitos.
Mesmo tendo vivido em várias partes do Brasil, Ryoki ressalta que o Vale do Paraíba é considerada sua terra natal. “Aqui é meu foco.”
Ryoki e Nicole afirmam que gostam de natureza, vida livre. Ou melhor, vida “ao ar livre”. “Com vida livre ganharia um bom dinheiro. Mataria uns políticos por aí...” 
 
Fonte: Esse texto foi retirado na íntegrado site:
 

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