Prezado confrade Balkan Sobranie, primeiramente gostaria de agradecer ao confrade por aceitar participar de nossa série Cachimbeiros de Verdade e dizer que é um prazer tê-lo conosco como entrevistado, visto a grande bagagem que possui no tocante a nossa querida arte, sendo um profundo conhecedor desta, fato que é evidenciado nos grupos dos quais participa no facebook, sempre ativo e buscando ajudar os confrades menos experientes, bem como dando dicas preciosas até para os veteranos.
Eu não o conheço pessoalmente, aliás, fui conhecê-lo através dos grupos do facebook, ali que percebi sua bagagem ao falar sobre tabacos bem como cachimbos, ao ajudar os mais inexperientes, bem como ao fomentar a discussão sobre vários pontos da nobre arte de cachimbar, criando sorteiros, enquetes, perguntas, enfim, enriquecendo-os!
Em tempo, essa entrevista ficou muito didática e interessante, o confrade expõe sobre o termo Mistura Balcânica, sobre a industria de tabacos americana, fala do renomado G. L. Pease, sobre o termo "confrade" utilizado no Brasil, enfim, é um material imperdível! Vale a pena ler!
Com vocês nosso querido confrade Balkan Sobranie! Abaixo a entrevista "in verbis"!
1. Confrade, como conheceu a
nobre arte? Se possível, relate sua primeira cachimbada, como foi, quem lhe
apresentou, qual foi o tabaco e qual foi o cachimbo?
Fumei em um cachimbo
pela primeira vez numa fria noite de Inverno, junto com um amigo, há muitos anos,
eu tinha 14, sentados sobre o muro de umas das casas do bairro em que eu morava
em São Paulo, o Bixiga. Meu cachimbo era um Argol (nacional, de madeira comum)
e o tabaco era o Bulldog, ambos adquiridos em uma padaria próxima de minha casa.
Aquela minha primeira experiência, que acabou se transformando em um hábito,
ocorreu por imitação a meu irmão, um fumante às sérias, vinte anos mais velho
do que eu, dono de um paladar requintado e de cachimbos importados e tabacos
Dunhill.
Minha primeira cachimbada
ocorreu com o consentimento de meu irmão, mas sem que meu pai ou minha mãe soubessem.
Naquela época era considerado desrespeitoso um filho fumar em frente a seus
pais.
Dias depois,
num generoso gesto de meu irmão, fumei London Mixture em um Corn Cob. Foi uma
experiência inesquecível, mas com certeza não por causa do Corn Cob. Olhando
para trás, hoje tenho certeza que foi naquele dia que nasceu a minha predileção
pelas Misturas Inglesas e, ao mesmo tempo, foi quando constatei que meus
fornilhos de Bulldog dos dias anteriores tinham sido uma experiência horrível, uma
coisa verdadeiramente bestial, minhas primeiras fritadas de língua e o alerta
de que os aromatizados e eu definitivamente não tínhamos nascido um para o
outro. Infelizmente, por viver à custa da mesada que recebia de meu pai, ainda
continuei fumando tabacos aromatizados nacionais por muito tempo.
2. Agora falando um pouco dos
cachimbos de "briar", tem algum/alguns favoritos? Qual marca/artesão
mais lhe agradam e o por quê?
Muitas das boas
marcas de cachimbos produzidos em série estão presentes em minha estante e
dentre todas elas a minha marca predileta é a Castello, tanto em aparência
quanto em funcionalidade.
Quanto a
cachimbos artesanais, Marco Biagini é o meu artesão preferido para cachimbos
grandes, daqueles que dão longas fumadas, e Lee von Erck o meu predileto para
cachimbos com aparência exótica. Ambos os escultores são excelentes e
imaginosos e só se utilizam de raízes de primeiríssima, dando um aspecto
excepcional a seus cachimbos que têm características construtivas praticamente perfeitas.
Adicionalmente, von Erck lança mão de um sistema todo particular de cura a óleo
que faz com que seus cachimbos sejam levíssimos e já desde o início deem
fumadas totalmente isentas de gosto proveniente da raiz.
Hoje, como já
não curto tanto cachimbos grandes ou exóticos, estou em busca de novos artesãos
favoritos. Recentemente recebi um cachimbo marTelo, que já reputo entre os
melhores do mundo, e estou no aguardo do recebimento de um do Bruno Robalo.
3. Ainda
nos cachimbos de "briar", poderia nos mostrar seu cachimbo ou
cachimbos prediletos?
Claro, como
não?
O cachimbo é um Moretti Magnum, que é a marca do mestre Marco Biagini, reparem que o socador leva inscrito o nome Balkan, socador este que o artesão utilizou-se da mesma madeira que fez o cachimbo. |
4. No tocante aos cachimbos
de espuma-do-mar, é um apreciador deste tipo?
Entendo que
você esteja se referindo aos cachimbos produzidos em Meerschaum, confere? Bem,
meerschaum não é a minha praia. Tenho alguns, que nunca me causaram grande impressão,
e não pretendo adquirir outros. Também os Calabash, em parte também produzidos
em Meerschaum, não estão entre os meus cem mais.
5. De todos os tabacos que
provaste, quais seriam seus preferidos? Tem alguma predileção por um
determinado tipo, Vaper, MI, VAs puros, etc.?
Eu poderia
citar aqui tabacos magníficos, lendários, inigualáveis, mas todos eles agora pertencem
ao passado, infelizmente. Não são mais fabricados e certamente não voltarão a
ser, pelo menos não para voltarem a ser como um dia já foram. Não vale a pena
falar neles porque a maioria dos eventuais leitores desta entrevista não teria
como avaliá-los. Ao invés de falar do que já se foi, prefiro citar tabacos
atualmente encontrados à venda e que aprecio para as minhas fumadas cotidianas.
Mas são tabacos absolutamente comuns, sem nada de excepcional:
MI: Standard Mixture
MI + Perique: Bombay Extra
Virgínia +
Perique: Escudo
Aromático:
Grousemoor
6. Ainda sobre os tipos de
tabacos, vi que o confrade não é adepto do termo MB - Mistura Balcânica, por
quê?
Para mim, a
pergunta seria o contrário: que conversa é essa de Mistura Balcânica? De onde
surgiu e como surgiu esse treco? Será que era assim que os produtores europeus
de excelentes Misturas Inglesas chamavam suas misturas ricas em Latakia? Como
será que eles se viravam antes do desaparecimento do Balkan Sobranie Smoking
Mixture? Seria então, desde sua criação, a famosa London Mixture também uma
mistura balcânica? A Commonwealth também? Afinal, a partir de que teor de
Latakia um mistura passa a ser considerada balcânica? Seria somente a partir de
27,693% ou já a partir 15,418%? Ridículo, não? Ou o uso do termo dependeria da
percepção do fumante? Mas percepção de quê? Percepção de qual fumante?
Palhaçada.
Não foi se não
a partir de meados de 1990 que este termo confuso e hilariante passou a ser
utilizado como designador de misturas confeccionadas ao gosto inglês.
Coincidentemente, na mesma época em que surgiram novas e pretenciosas empresas
americanas no mercado que, imbuídas do mesmo espírito que fazem os certos estadunidenses
crerem que um dia seremos convencidos de que foram os irmãos Wright os
inventores do avião, assim também querem nos fazer acreditar que seus produtos
são extremamente semelhantes, quase idênticos ao paradigma, ao Santo Graal das
Misturas Inglesas.
“Olha, se a
gente escrever na embalagem das nossas misturas que esse troço que a gente faz
é balcânico, esse caras vão começar a acreditar que o nosso produto é igual
àquele que o avô deles fumava! Sim, eu sei, eu sei que não é verdade, mas quem
vai provar o contrário? A gente cria uma nova categoria, entendeu? No final,
tudo o que importa são os dólares entrando. Ou não?”
“Agora temos
Internet? Então tome resenhas na Tobaccoreviews! E tome artigos e mais artigos
do todo-poderoso homem de marketing, senhor referendador,
me-engana-que-eu-gosto Gregory L. Pease!”
“Mas, o quê? Se
aqueles figurões todos, se todas aquelas figurinhas carimbadas dos EUA estando falando
mistura balcânica, então eu também vou falar! Caramba! Foi o G.L. Pease quem
falou! E você acha que eu vou ficar atrás? Eu não, nem a pau, Juvenal.”
Aconselho darem
uma atenta espiada na embalagem do Santo Graal e verificarem que tipo de tabaco
os produtores daquela mistura tentavam apregoar como responsável (atenção: na
opinião deles mesmos) pelas ainda hoje enaltecidas características da mistura
que produziam. Mas na embalagem do Santo Graal original e não das suas
tentativas de recriação.
E, se me
permitem um conselho, tenham espírito crítico. Tomem cuidado com uma “verdade”
repetida quase a exaustão e de modo belo, pomposo e rebuscado. Senão fizerem
assim, se não forem críticos, correm o risco de acabar acreditando que Hitler é
que estava certo... O G.L. Pease dele chamava-se Joseph Goebbels.
Mistura
balcânica? Blah! Indústria do tabaco americana: Vá ganhar dinheiro à custa da
ingenuidade alheia, não da minha.
Pra finalizar o
assunto, não quero que fique a impressão de que eu não gosto do Sr. G.L. Pease.
Gosto dele sim, e muito. Toda vez que eu estou de mau humor, corro para o
computador e leio algum dos doutos artigos que ele escreve. Daí, adeus mau
humor!
7. Isqueiro ou fósforo? Caso
tenha predileção por isqueiros, qual seu modelo preferido?
Isqueiros. São muito práticos e, tomando-se o
devido cuidado, são tão bons quanto os fósforos. Os meus isqueiros favoritos
são os Old Boy, da Corona, dos quais tenho cinco, todos quebrados e encostados
em um canto qualquer da casa. L Os Old Boy são muito bonitos, caros
e... absurdamente frágeis. L. Cansado de gastar dinheiro na compra
deles, acabei me valendo dos isqueiros BIC de tamanho grande, com os quais me
dou muito bem. J
8. Agora falando sobre uma
ferramenta inseparável dos cachimbeiros, os famosos socadores, poderia nos
mostrar o seu predileto?
Como fatalmente
acaba acontecendo com todo fumante de cachimbo, tenho dezenas e dezenas de
socadores. De todos, o que mais gosto é um que nunca uso: é um presente que
recebi do Marco Biagini e que traz o meu apelido.
9. Como o confrade traduziria
o ato de cachimbar?
Um momento
ampla e profundamente contemplativo.
10. Teria alguma história
especial com algum tabaco ou mesmo com o cachimbo para nos contar?
Não, não me
lembro de nenhuma história assim. J
11. Falando em história, sei
que o confrade é amigo de longa data do nosso querido confrade Térgio Patrício,
como essa amizade começou? Já cachimbaram muito juntos?
Conheci o
Térgio à época da A Confraria do Cachimbo, da qual éramos ambos integrantes, e em
função do muito que temos em comum, eu e o Térgio acabamos nos tornando bons
amigos.
Uma coisa sobre
mim e o Térgio que vale muito a pena citar é que temos paladares para tabaco
que divergem frontalmente. A grande maioria das misturas que um aprecia, o outro
não gosta. Nossas predileções são com água e vinho e isto nunca nos impediu de
nos tratarmos com o máximo de respeito e consideração. Se fossemos, os dois,
tão mal educados e grosseiros como muitos dos integrantes dos grupos de
fumantes do Facebook, a esta altura já estaríamos exaustos de tanto dizer um ao
outro “Isso aí que você está fumando é uma b...”. Só que isto nunca ocorreu.
Então,
senhores, se acham que podem aprender alguma coisa com ele e comigo, comecem
por refletir um pouco sobre o que significa amizade, respeito, consideração,
dignidade.
12. Falando em confrade, esse
termo, aqui no Brasil, foi introduzido pelo nobre confrade, poderia nos
explicar?
Não estou certo
se fui eu que introduzi este termo entre os fumantes de cachimbo das comunidades
virtuais brasileiras. Mas, associado a fumantes de cachimbos, me lembro, isto
sim, de nunca tê-lo ouvido antes da criação da “A Confraria do Cachimbo”, um
grupo brasileiro que existiu no passado e fundado praticamente ao mesmo tempo
do surgimento do Yahoo no Brasil. “Confrade” era a forma habitual dos
integrantes dessa confraria tratarem uns aos outros, tantos nas conversas
virtuais quanto nos Encontros ao vivo. Talvez não tenha sido eu o introdutor
desse termo, talvez tenha sido outro “confrade”. J
13. Atualmente o confrade
criou um grupo Vivência de Cachimbeiros, qual o objetivo principal desse grupo?
É um grupo aberto? Quem quer participar como faz?
De início o
grupo tinha outro nome, era a “A Escolinha do Cachimbo”, que foi criado com a
intenção de sanar uma falha, a meu ver grave, de todos os demais grupos com os
quais tomei contato: a falta de real interesse pelos principiantes e suas
dificuldades. Mas logo percebi, até em função do péssimo nome que escolhi, que o
que os iniciantes esperavam era apenas receberem aulas, nada mais. Não tinham
interesse verdadeiro em participar ativamente. Limitavam-se a se comportar como
quem tivesse comprado um ingresso e ficavam estatelados em suas poltronas
esperando que o espetáculo começasse. Ingenuamente imaginei que mudando o nome
do grupo para “Dúvidas de Principiantes” as coisas mudariam para melhor e que finalmente
teríamos postagens com dúvidas e, consequentemente, iniciantes passando à
condição de iniciados. Que nada, outra grande bobagem minha. Pasmo, fui obrigado
a aceitar o fato de que as pessoas a quem eu oferecia ajuda não se interessavam
por ela.
Mas fiz uma última tentativa alterando, mais uma vez, o nome para Vivências de Cachimbeiros, supondo que surgiriam bons samaritanos interessados em partilhar suas experiências com os iniciantes. Os bons samaritanos até que surgiram, e vários, os iniciantes é que não.
Para encurtar a história, o grupo Vivências acabou abandonando
sua vocação inicial e se transformou em um pequeno grupo para amigos que gostam
de conversar sobre cachimbos e tabacos.
14. Sei que o confrade é um
homem ocupado, já abusando de seu tempo, qual dica/conselho daria aos
iniciantes?
Dicas a iniciantes me
cansei de tentar dar, o que não encontrei foi ouvinte. Fica então um conselho válido
para iniciantes, iniciados, veteranos e para mim mesmo: Cuidem de não serem
vaidosos, pois a vaidade tolhe a visão e distorce a percepção que temos de nós
mesmos em face a realidade.
15. Teria alguma colocação
final para fazer, fique a vontade!
Não, nenhuma,
realmente.
Um abraço e boa sorte a todos em suas jornadas. :)
Ótima entrevista, como de costume!
ResponderExcluirGostei da parte em que o confrade José fala dos isqueiros. Eu tb já tentei usar isqueiros mais chics e apropriados, mas eles não duram. Agora, só BIC mesmo hahaha!
Abraços a todos!
Obrigado confrade! :) Realmente confrade, ás vezes e nem tão raramente assim, o menos é mais!
ExcluirEm que pese eu não conseguir me desgrudar do Zippo quanto trata-se de acender o cachimbo! hehehehe
Um abraço e excelentes cachimbadas!!!
Baita entrevista meu amigo. Teve que reler com o meu churchwarden cheio.
ResponderExcluirObrigado confrade, fico feliz que tenha gostado!
ExcluirTambém adorei ler essa entrevista, muito boas as palavras do confrade!
Um abraço e excelentes cachimbadas!!!