Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo
e exigente chamar. (João Cabral de Melo Neto)
O mar, o homem, o cachimbo, a alegria, a tristeza, a grande deusa linda, perfumada, encantada, tal qual o mar... Eu também não sei que ligação tão profunda e misteriosa existe entre esses elementos, só sei que quando estou no mar de Dona Janaína parece que o mundo para e não quero mais voltar, quiçá sejam lembranças de quando estava imerso na água, no útero de minha mãe, lá encontrava toda a substancia alimentar e de afeto que necessitava; quiçá sejam os braços aconchegantes dessa deusa a transbordar afeto e acalento...mas uma certeza eu tenho, é doce viver no mar e como diria o poeta, também deve ser "doce morrer no mar"!
Salve dia dois de fevereiro!!! Salve minha mãe Iemanjá!!!
***
Jorge Amado - Mar morto
” Judith soluça no quarto. É destino de todas elas. Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor e vem a morte. E não é sobre o mar que a Lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual ao dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e nos jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens de terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar: um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, uma vela que o vento da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor nas noites do cais? Qual deles não sabe amar com violência e doçura? Porque toda a vez que cantam e que amam, bem pode ser a última. Quando se despedem das mulheres não dão rápidos beijos, como os homens da terra que vão para os negócios. Dão adeuses longos, mãos que acenam, como que ainda chamando.(…)
A música atravessa o cais para chegar até eles: ...É doce morrer no mar…” (Jorge Amado . Mar Morto. p.24 e 25) ”Para ver a mãe d’água, muitos já se jogaram no mar sorrindo e não mais apareceram. Será que ela dorme com todos eles no fundo das águas? (…) porque a mãe-d’água é loira e tem cabelos compridos e anda nua debaixo das ondas, vestida somente com os cabelos que a gente vê quando a lua passa sobre o mar. Os homens da terra (que sabem os homens da terra?) dizem que são os raios da lua sobre o mar. Mas os marinheiros, os mestres de saveiro, os canoeiros, riem dos homens da terra que não sabem nada. Eles bem sabem que são os cabelos da mãe-d’água, que vem ver a lua cheia. É Iemanjá que vem olhar a lua. Por isso os homens ficam espiando o mar prateado nas noites de lua. Porque sabem que a mãe-d’água está ali. Os negros tocam violão, harmônica, batem batuque e cantam. É o presente que eles trazem para a dona do mar. Outros fumam cachimbo para iluminar o caminho, assim Iemanjá verá melhor. Todos a amam e até esquecem as mulheres quando os cabelos da mãe-d’água se estendem sobre o mar.” (Jorge Amado. Mar Morto. p.27)
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